modo de preparo...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Angústia

São 11:11. Alguém deve estar pensando em mim.

Estou aqui, sentado numa cadeira preta, em frente ao computador 5 da sala de computadores da biblioteca da Universidade Federal de Goiás, na praça universitária. Eu e os outros alunos cansamos de esperar o professor chegar, então cada um foi para o lugar que queria (claro que só depois de jogar algumas partidas de truco). Alguns foram embora, outros estão lendo - alguns ali do lado, bebendo... Eu resolvi acessar a internet. Minha tia vai me pegar aqui as 12:00, então até lá eu vou "brincando" aqui na net.

Por incrível que pareça, a sala de computadores da federal é muito boa: a internet é rápida, a sala tem ar-condicionado, cadeira acolchoada, computadores em ótimas condições. Mas nada disso me alivia, porque faz alguns minutos que estou angustiado, tão angustiado que só mesmo escrever no blog para amenizar a minha dor que grita dentro do meu corpo. É uma dor tamanha que é um tanto difícil expressá-la com clareza aqui: a vontade que tenho é de expeli-la de uma só vez!

É uma inquetez tão grande, tão maluca! Leitor, querido, me ajude! Acho que não vou conseguir segurar. O conteúdo fétido e repugnante que guardo aqui dentro, tenho que compartilha-lo com vocês! Isso de maneira alguma me trará a paz plena, mas de alguma forma vai amenizar o meu problema. E sabe qual é ele? Eu lhes digo.

Tô com vontade de cagar.

Fazer cocô mesmo, daqueles grandes e fedidos.

Mas fazer merda aqui no banheiro da Federal é suicídio.

O jeito é esperar até dar meio-dia. Agora são 11:30, faltam 30 minutos.

30 minutos de angústia...

sábado, 22 de março de 2008

A Não Páscoa

Por que tenho que escrever sobre a Páscoa?!Quem disse que eu TENHO que escrever sobre a Pásoca?!- "Foi você mesma quem impôs isso, Paula!" , Porque este é um blog das " coisas cotidianas", que deve retratar o cotidiano ou o " momento atual" , as coisas do dia-a -dia e hoje é um dia, um dia chamado " sábado de Alelúia " ( e eu morreria de vergonha por não saber responder o que é o Sábado de Alelúia, pois na minha cabeça eu DEVERIA SABER o que é o sábado de alelúia - afinal, eu sou batizada na igreja católica.. e querem saber? - eu NÃO SEI ao certo o que significa Sábado de aleluia..) ;e amanhã é Domingo de Páscoa e por isso achei que TINHA QUE escrever sobre a Pácoa..mas isso foi uma regra da minha cabeça, uma entre tantas outras que me tornam impedimento de mim mesma..ahhhhhhh!!

Esperem aí: eu não TENHO QUE escrever sobre a Páscoa!Mais da metade dos escritos essa semana foram e serão sobre a Páscoa!A Páscoa já está saturada, não!?(Que falta de criatividade!).Assim, escreverei sobre a " Não-Páscoa" , até porque , não saberia escrever sobre a Páscoa, ou tão somente aquela que é do meu conhecimento e vivência. Não tenho competência suficiente para isso.Já sobre a " Não-Páscoa"...ah, essa eu conheço: a observo muito.

A Não-Páscoa é das religiões que não celebram a ressureição do bom homem que foi Cristo.Eles não são mais nem menos felizes por isso.

Dedico a Não-Páscoa àqueles que, por motivos de força maior, preferem não celebrar a Páscoa, porque têm um ente querido hospitalizado,distante;ou porque a data lhes invoca más lembranças.

A Não-Páscoa é para os enfermos,os dependentes químicos,os presidiários,os deprimidos... eles também são " filhos de Deus", ou não o são?!

A Não-Páscoa é para tornar menos dolorosa a Páscoa das crianças cujos pais não podem fazer almoço com bacalhau à R$ 40,00 o quilo nem comprar um ovo tamanho 12 para cada um dos seus seis filhos,quando esses assistirem no televisor da vitrine das casas Bahia o menininho protagonista da novela gahar um ovo importado da Lindt ,ou coisa parecida, embrulhado em uma cesta de vime e preso a um coelho de pelúcia gigante feito com legítimo cashmere de lã,etc e tal.

Não-Páscoa para quem não tem nada!Não -Páscoa para quem não tem lar,não tem família, não tem companhia!Não-Páscoa para os seres e objetos cujos universos nem dimensionam o que é " Páscoa" - para os próprios coelhinhos(tadinhos), as pedras, os cães, as árvores, as portas!!

A Não -Páscoa é para quem é ateu, ou considera a data apenas mais um feriado e só quer aproveitar para descansar,adiantar os afazeres, estar com a família também, mas sem maiores obrigações eclesiásticas.

Não- Páscoa pode ser o que um quiser que ela seja, sua finalidade atende à toda e qualquer finalidade.A única particularidade boa da Não-Páscoa é que esta não exclui, não restringe à cor ,credo..ou à quantidade de chocolate que você ganhou.

Eu não desejo uma boa Não-Páscoa para ninguém -considero importante as manifestações de fé; também não desejo uma má Não-Páscoa...fica a criteiro de cada um.Apenas espero que enquanto nós, abençoados,que podemos celebrar a data - e o fazemos -lembremos que ela existe, (e para muitos). Assim como a Páscoa," passagem", a Não-Páscoa também passa, e passará depois de amanhã, segunda-feira.Seguiremos com o " dia-a-dia" (tomando cafés amargos pela manhã ou se preferirem,leite com toddy).

domingo, 9 de março de 2008

Céu

Estava irritado. Minha mãe disse que me buscaria as 5:30 e já eram 6:30. Na calçada, sentado sozinho, passei a observar. Vi uma senhora conversando com uma mulher, um papo silecioso e entrecortado por silêncios que eu mal posso imaginar do que se tratava. Vi um bicicleteiro que passou na rua, vindo de algum lugar e indo para outro. Um adulto-velho estava dentro de um carro vermelho-escuro lendo uma revista e ouvindo música. Um moço passou pedindo esmola e não recebeu (se ele tivesse me pedido, eu lhe daria os 5 reais do meu bolso que estavam ali para pagar uma apostila que não chegou). Um jovem adentrou o portão do seu prédio e sumiu nas paredes.
Imerso na vida, observei então o céu. Estava com várias tonalidades de azuis (o claro, normal do dia, e um mais escuro), e as nuvens imensas pareciam pintadas com um pincel grande e imprudente. Não eram aquelas nuvens algodão-sólido, que conseguimos criar imagens das mais variadas, mas sim nuvens suaves, finas, emendadas umas nas outras. O branco delas se misturava com o azul do céu como tinta mesmo. A luz do Sol ainda dava para ser vista, amarelada, vindo de algum ponto que eu não conseguia enxergar, e fazia o dourado se misturar com as cores em pontos inimagináveis.
O céu parecia maior do que realmente é. Pareciam haver vários "céus" ali, um em cima do outro (acho que foram as nuvens que deram este efeito), mas sei que na hora eu não conseguia deixar de olhar para cima. Em outro canto, algumas nuvens pingadas de azul-escuro-chuva também vinham, fracas e finas como as outras.
Só sei que me senti como um ser humano minúsculo, imerso no Universo, sabendo apenas que não sabia nada. Era como uma criança que não sabe ler, mas se admira quando pega um gibi cheio de figuras. O céu detém mistérios dos mais variados, isso eu tenho certeza. É imponência demais, beleza demais. É grandeza, é infinito... Ele esconde coisas tão bonitas e perigosas, coisas que meu coração é pequeno demais para sentir. Diante dele, sou apenas uma criança mesmo, me alegrando com as imagens, perguntando a mim mesmo o que será que está escrito dentro dos balõezinhos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

movimento

eu estava na van, ouvindo minha musiquinha romântica e triste, quando eu vi. -meu deus, tem tanta coisa acontecendo e eu nem posso sentir! eles tem dito, todos eles, todos os professores: jornalista tem que estar atento - tem que ver - que em cada segundo tem milhões de coisas acontecendo, e que essas coisas são notícias.
se são notícias ou não, eu ainda não consigo destinguir. eu ainda não passei pela censura de uma reunião de pauta. mas pra mim, tudo ainda pode ser notícia. notícias populares, no sentido de que a vida está sempre acontecendo, constantemente, com o tempo se movendo e levando a gente com ele.
eu vi, porque eu estava parada dentro de uma van de transporte escolar, indo para a minha faculdade particular, respirando a música que tocava no meu ipod, com meu novo cabelo liso, e tinha um carro meio velho e muito usado ao lado. dentro dele não tinha ninguém igual a mim, mas um casal com caras muito mal humoradas que com certeza não vinham da preguiça por acordar tão cedo assim. eles discutiam. discutiam sério, feio, e a moça fazia uma cara triste enquanto ele lhe apontava o dedo. todos da van olharam a cena, não foi só eu, não foi só a minha curiosidade não. eles quase gritavam.
eu não tive dó, nem compaixão, nem nada que me doesse. afinal, todo mundo briga não é? e eu estava ali do lado, do lado de fora, não havia nada a fazer a não ser em relação a mim mesma e a minha própria vida. o mundo flutuava la fora. o mundo se perdia entre meus dedos porque girava numa velocidade que eu não pude acompanhar. mas de fato, eu vi.
vi que a vida não pára, por mais que eu pare, por mais que eu me esforce, por mais que eu corra só pra ter o gosto de descansar depois. a vida não descansa. eu posso estar parada no meu sofá, com um laptop no colo, movendo apenas cinco dedos para escrever, mas o mundo está em movimento. enquanto eu fico aqui parada, tem gente correndo nessa chuva que não pára e me dói o peito, tem gente morrendo gente matando gente nascendo gente amando gente sofrendo, tem gente em todos os gerúndios que se possa imaginar. eu só quero ter o privilégio de observar, de sentir, de imaginar todas as guerras armadas e desarmadas (aquelas interiores, de dentro da cabeça) que podem estar acontecendo nesse exato momento da minha estática.
e fechar os olhos no final. pra sentir o mundo rodar na minha fome. sentir que nem tudo é notícia, mas tudo é fato. tudo é ato, tudo é suor. e não importa quantas dúvidas eu tenha, ou quantas angústias me esmaguem o peito como se faz com uma bola de papel antes de jogá-la ao lixo. porque a muitos e muitos anos atrás, Deus deu um impulso tão forte na Terra, que ela nunca mais conseguiu parar de rodar.


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o blog agora quase já é oficialmente só da paula e do joão paulo (deve ser coisa do nome). desculpem o desleixo, a ausência e tudo o mais. mas, "o bom filho a casa torna". e eu apareço assim, sempre que puder. ;)

domingo, 2 de março de 2008

Caridade

Tenho ajudado todas as sextas uma creche da periferia. É algo muito simples: eu e mais quatro jovens amigos nos dirigimos até lá a tarde e brincamos com as crianças. Elas são divididas em duas turmas: a da tia Elisa (mais grandinhos, de 4 a 6 anos) e a da tia Sílvia (de 2 a 4). Eu eu o Gabriel tomamos conta dos menorzinhos, e levamos sempre uma historinha com fundo moral e um desenho para colorir, relacionado a história.

É uma creche bastante simples, movida pelo voluntariado espírita, que atende 50 e poucas crianças. Todos os dias chegam mães querendo matricular crianças, mas não há espaço. O bairro é pobre, há muitas necessidades e é claro que não podem contar com a política. O que fazemos lá é um grão num enorme saco de arroz que ainda não está cheio (que metáfora idiota!).

Mas estar lá me alegra, ver o rosto da criança feliz me alegra, e isso já é importante. Me deixa muito feliz também saber que muitos jovens como eu estão já inseridos em trabalhos voltunários, como o Pedro Felipe, o Chrystian e outros. Sei que existem tantos outros, mas não o conhecemos pela televisão porque a ajuda voluntária é assim mesmo: um ato silencioso, despercebido, que tem a sua beleza grandiosa na pequenês de sua dimensão.

Convido, hoje e sempre, a todos os que lêem agora estas palavras, a procurarem algum trabalho voluntário. Talvez seja só o acaso que me leva hoje a escrever sobre caridade, e talvez seja só o acaso que levou você, leitor, hoje, agora, a ler estas palavras...

Mas talvez o acaso não exista. Eu particularmente acredito que não... Sempre há motivos por trás das coisas da vida. Não vamos mudar o mundo ajudando tão pouco, mas o objetivo não é mudar o mundo mesmo. É uma maneira de nos sentirmos úteis, só.

Certa vez abri, do nada, uma página do "Minutos de Sabedoria" e lá dizia que quando deixamos de nos preocupar com os nossos problemas (mesmo eles sendo muitos e gritantes) e passamos a se preocupar com os problemas do próximo (seja um familiar ou uma criança de creche), sentimos uma felicidade singela dentro de nós. E essa luz faz nossos probelmas parecer menores e muito mais fáceis do que imaginamos.

Sempre, dia pós dia, nos defrontamos com o nosso eu, e nos perguntamos o porque de, do nada, uma tristeza sem motivos acomodar nossos corações. Ou então, uma raiva por causa disso, daquilo, um obstáculo na vida que parece não ter saída e os caminhos que tentamos solucionar parecem fazer círculos...

Está aí, então, uma dica para resolvê-los. Pensar nos outros. Doar o que podemos, e receber o que mais precisamos. E se você, leitor, não sabe como ajudar, mas tem uma intuição, siga a sua intuição, siga essa voz que aponta um meio de ajudar, e mesmo que pareça improvável, acredite e vá em frente.