modo de preparo...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Constrói, desconstrói

Ele comprara a casa ainda quando os três filhos eram adolescentes.Próxima ao rio Piabanha, aflutente do grandioso Paraíba.Amplo terreno; muitas árvores,flamboyants,mangueiras,pitangueiras,limoeiros,amendoiras agardáveis jardins, sempre sob os cuidados de sua mulher, que atenciosa e delicada , havia os decorado com flores pequenas e coloridas, begônias,antûnios e marias-sem-vergonha..., uma piscina,sauna,um campão, onde jogava-se vôlei ou futebol, bastava pôr ou tirar a rede; uma horta, que por anos deu alface, couve,rúcula,agrião,cebolinha,salsa,cenoura,tomate e dependendo da estação até amoras , que as netas, no futuro colhiam e comiam ali mesmo ao pé da árvore.Alguns cachorros também passaram pela casa,um pastor alemão, escolhido do filho caçula, depois, uma série de dobermanns, Zorro, Areta, Toby,legítimos cães de guarda;o último, atual e jovem sobrevivente : um bonito e doce boxer, Thor,como fora batizado pela segunda de todos os sete netos.A casa em si havia sido construída por ingleses, lembrando um chalé ( os ingleses apreciam o campo, a serra, o frio, não é mesmo? -lhes dou toda a razão).Quartos eram oito, três dos quais não estavam na planta original e que haviam sido construídos a medida que a família ia crescendo , bem como o número de convidados e freqüentadores da casa.A mobília, em parte, herdada da modesta casa de campo da mãe do proprietário, em Petrópolis, cidade imperial, próxima dali.


No seu auge, a casa foi cenário de muitas comemorações daquela família e amigos.Aniversários, anos novos, batizados, férias de verão e inverno também ( alta temporada da serra carioca).Os que mais aproveitaram o espaço foram os filhos,dois homens e uma mulher entre os dois.Em seguida os netos mais velhos, que são, na verdade, netas.Puxa, como aproveitaram!Traquinas, na medida extata, cresceram entre banhos de piscina ,quedas das árvores, passeios pela horta e canteiros ( verdadeirs selvas!) e experiências gastronômicas desde filés ao molho madeira e bolos de chocolate, oriundas da lama fresquinha que as chuvas das tardes de janeiro traziam nas manhãs ensolaradas dos dias seguites.Gostavam também de se entregarem à preguiça vez ou outra, deitando-se no balanço espaçoso e observando o balé das nuvens lá em cima ( que na serra nos dão a impressão de estarmos mais próximos aos ajinhos), nos céus de brigadeiro, sobretudo no meses de abril e maio.Outra das diversões, com sabor acentuado de férias, era ir até ao lago , duas esquinas da propriedade, onde havia (ainda há) um ponto de cavalos.Alguns eram verdadeiros pangarés ( mas que serviam muito bem de alazões para duas crianças), outros, calavos de maior porte e raça, que as meninas passaram a montar já mais velhinhas.E lá aprenderam a calvalgar, com tombos é claro - é caindo que se aprende mais.Gostavam mais de marcha ou de galope, é que a marcha e o galope são tremendamente mais confortáveis do que trotar.


Em julho, ao anoitecer, acendia-se a lareira para espantar o russo a aquecer todos ali, embora eu acredite que o que verdadeiramente aquecia as pessoas era o calor delas mesmas, simplesmente por estarem ali,reunidas.Um verdadeiro espetáculo!Também fazia se fondue, mas só em ocasiões especiais.Depois da janta, alguns jogavam cartas, outros faziam uma sessão cinema ou conversavam e a ala infantil, se não fizesse muito frio ,saia para caçar vagalumes.Iluminadas eram essas noites!


Aos poucos,os filhos e seus conjuges foram crescendo em seus empregos e crescia também o tempo que estes demandavem deles, logo , a casa passou a ser menos visitada, claro que ainda subiam alguns fins de semana, ou em pequenas temporadas nas férias quando vinham visitar a família depois de se mudarem para o exterior.Vieram mais netos e ainda que diferentes, o processo se repetia.


Hoje , a tal casa é objeto de dúvida: se será ou não posta a venda.A idade chega.E não chega apenas para os mais velhos ( que se preocupam com a construção de um futuro que não mais tanto o seu), mas chega para todos, e para justificar mudanças,novos interesses, decisões.
Entendam que já não estou mais somente me referindo a casa, sua construção sólida ( que afinal tantas enchentes enfrentou), mas o que ela representa,ao ciclo de um clã.A vida é isso?Determinada ,será isso?Um sujeito cresce, como todas suas dificuldades ( não diferente de todos), casa-se, cria os filhos, CONSTROÍ um legado, uma família, para depois esta se dispersar, como o sujeito em si, carregado dentro em cada um que desfrutou de sua presença, em o quê?Memórias?Mas memórias não são sólidas como os tijolos de uma construção!Todavia reconheço conformadamente que são elas que "sustentam" nossas faltas e saudades.


Sabem uma das netas mais velhas?Sou eu e, antes que me digam para escrever um texto mais decente, peço desculpas pelo meu desabafo exdrúxulo, sei que aqui não é exatamente espaço para tal, mas está aí uma coisa para se pensar.

4 comentários:

João Paulo disse...

Acho que aqui é um espaço para se escrever o que quiser. :)

O blog deve ser sinônimo de liberdade. Quero ainda dizer aos meus amigos de blog que ninguém tem obrigação de escrever sempre, podem escrever quando quiser, sem ordem, duas vezes seguidas, uma vez por semana, enfim...

A liberdade deve existir, e ela vai ser extravasada em nossos textos, e isso é bom.

Quanto ao texto, adorei, Paula. :)
Eu estou ouvindo música caipira agora... Coicidência, não? Senti o cheiro de capim, de terra molhada, essas coisas simples todas, quando li o texto.

Como são begônias,antûnios e marias-sem-vergonha? Nunca vi.

pequena disse...

:)
obrigada joão,sinto como se acabasse de rececber um abraço seu.(estou com saudades, e um tanto sensível nestas férias).

bom, o que posso dizer sobre begônias,antûnios e maria-sem-vergonha..? são lilases,azul claro e rosa claro (nessa ordem). E q são flores pequeninas e delicadas (como minha avó)..:)

=* o/

Unknown disse...

Paula, gostei do texto, transpira sensibilidade. Quanto à casa, o que sei é que, haja ou que houver, ela estará para sempre encantada dentro de vc.
Bjs
Marilda

Anônimo disse...

minha vó tinha antûnios brancos. =)