modo de preparo...

sábado, 3 de novembro de 2007

Sobre a escrita

Gosto de escrever. Quando eu me imagino professor - um anseio que gostaria de ver realizado-, me vejo dando aulas de redação. Gostaria de fazer meus alunos verem a beleza que eu vejo no ato de escrever. Porque escrever é uma arte, assim como desenhar, atuar, dançar, beijar...

É uma arte porque, primeiro, lembra a dança. Quem vê o outro dançando pode até achar fácil (o dançarino dança com tanta leveza e graça!), mas quando se tenta cai logo no primeiro movimento. A escrita é composta por uma série de passos, movimentos, na medida certa, que se feitos com maestria conduz suavemente o leitor. Quem disse isso não fui eu, foi Fernando Sabino. Ele também disse que seus textos podem ser lidos por todos, do professor ao aluno, do chefe empresário ao faxineiro da empresa, porque sua linguagem é bastante prática e acessível.

Isso porque, quando ele escreve, pensa no leitor. Eu também penso em você, leitor... É você quem lerá meus textos, devo-lhe todos os créditos. Eu não existiria (este texto não existiria) se não fosse você que o lê, assim como uma banda não existiria se não houvesse pessoas dispostas a ouvirem sua música. É como imaginar um show sem platéia! Por isso, não gosto de esnobar, de dificultar a linguagem, de colocar palavras difíceis, de promover minha imagem com o texto. Isso só irrita o leitor. No fim, “núncio palreiro” e “mensageiro tagarela” é a mesma coisa, então pra que ficar com a primeira opção?

A gente acaba percebendo que escrever não é difícil... Só exige muita prática, e conhecimento amplo da língua. Não somente o conhecimento de palavras (não adianta comer o dicionário), mas o conhecimento da forma como se pode utilizar a língua com a finalidade de expor de maneira inteligível as idéias no papel. Para isso, basta ler muito... A melhor forma de aprender a escrever é ver esse “escrever” feito por outras pessoas. Por exemplo, eu, quando passei a ler Harry Potter, comecei a usar verbos no pretérito mais-que-perfeito (ele entrara na cozinha, bebera leite com toddy...). Quando li Olavo Bilac, aprendi que firmamento e abóbada celeste querem dizer a mesma coisa: céu. Prestando atenção nas aulas do Paulo Ribeiro, aprendi a usar “em função de”, que é bem útil (parece com devido, só que é mais fácil de usar). Lendo o Arthur, gostei de sua onomatopéia “Argh!” e talvez venha a usá-la, algum dia...

As pessoas que não gostam de redação reclamam da falta de criatividade. Eu acho que, mais do que isso, o problema está na falta de liberdade, porque sempre os professores nos dão temas específicos, com a obrigação de usar coletâneas e escrever o tipo de texto que é pedido. Eu, particularmente, tenho certos problemas com provas de redação – fujo do tema, algumas vezes. “Sua redação está muito boa, João, mas talvez você possa receber nota zero porque não é exatamente isso que a prova pede”, já ouvi minha professora dizer. Isso é desanimador. É como dizer para um pintor que a floresta que ele pintou está linda, mas que o avaliador de arte achará horrível porque o que ele quer ver é um oceano.

Isso é muito chato. Argh! Textos produzidos por alguém dizem muita coisa sobre esse alguém, portanto devem ser respeitados. Peço que você, leitor, que não gosta de escrever, passe a ver na escrita uma forma de se expressar, da maneira como quiser, do jeito que desejar! É como se você tivesse um monte de lápis de cor e um papel branquinho, te esperando... Inclusive, tenho uma idéia de abrir uma sessão “Convidados” aqui no Leite com Toddy, não sei se meus companheiros de blog vão concordar...

De qualquer forma, era isso que eu tinha para dizer. Acho até que me alonguei demais. Por isso, sem mais delongas, termino o texto com uma frase muito massa, do Fernando Sabino: “Existem várias maneiras de se dizer a mesma coisa, e a melhor é, em geral, a mais simples”.

8 comentários:

Arthur disse...

Cada dia que passa gosto mais do que você escreve. E nem sei se chamo isso de texto ou de conversa. A forma que você diz "leitor" entre vírgulas é tão amigável que nos dá mais vontade de continuar lendo.
Acho uma boa idéia fazer uma seção convidados.
Vamos ver com os outros toddynhos, nossos companheiros de aventura.

Anônimo disse...

Adorei.
Sério, adorei muito.
Nunca fui muito bom palavras apesar de amar a língua portuguesa. Me satisfaziam mais os desenhos. E no vai-vém a vida acabei perdendo os desenhos também.

Muito obrigado, meu chapa. Vou fazer as pazes com a prosa e tirar a poeira do portfolio.

pequena disse...

Acho que estamos assistindo ao surgimento do 'Fernando Sabino ' de nossa geração... =)

João Paulo,

É sempre muito prazeroso ler o que você escreve.

Até mais! =* =)

Arthur disse...

interessante é que o "BLONICAS" teve essa idéia também. eles tem a coluna "o leitor tambem escreve".
apoio essa idéia =]

Aline disse...

eu também apoio. acho ótimo, estimulante, ter convidados, ler coisas novas, pessoas e idéias diferentes. apoio totalmente.

joão, meus parabéns. é realmente prazeiroso ler o que vc escreve.
se me permite, queria discordar de você em uma coisinha: muitas vezes eu não escrevo para o leitor. é meio egoísta, eu sei, mas as vezes eu escrevo só desabafos, coisas que outras pessoas não irão ler. sou sim uma banda sem público vez ou outra, e acho até legal, mas, é claro, que isso é de pessoa, não? :)

parabéns mais uma vez.

Arthur disse...

quando se escreve para um leitor é quando voce quer necessariamente que esse leitor acate tudo que você está dizendo, típico de textos bjetivos ou que transmitem uma idéia sua.
Desabafos, diários são muito subjetivos. São como as poesias. O leitor compreender o que a gente disse é um passo a mais, um detalhe. O importante é termos escrito.

Anônimo disse...

depende também do leitor, existe aquele tipo que gosta de identificar-se nos textos. começar a ler os desabafos da aline pode despertar em alguém a reflexão dos seus próprios atos. já ler os textos do joão paulo podem trazer tranqüilidade e uma maior intimidade para quem quer descansar de uma análise. mas ambos são bons (ótimos) ;D

Anônimo disse...

nossa, eu não teria dito melhor.
é tão chato ver que alguns blogueiros acreditam estar escrevendo para jornalistas, quando, na verdade, só querem mostrar que lêem mais o dicionário que a maioria. claro que há determinadas expressões que não são utilizadas de forma tão habitual, mas que não fossem elas, o texto não teria o mesmo sentido. mas, na maioria das vezes, a simplicidade é a melhor escolha.