modo de preparo...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

História de uma decisão

O senhor entrou no consultório médico e se sentou na cadeira preta, em frente à escrivaninha cheia de papéis. Olhou em volta, observou a mesa do doutor, um quadro com tema egípcio na parede de madeira envernizada, um bonito consultório. Após esperar uns 6 ou 7 minutos o médico entrou por uma porta diferente da que ele havia entrado.

- Me desculpe o atraso, Sr. Fernando, encontrei um amigo no caminho até aqui.

- Imagine Dr. Lucas, não tem problema.

- Como vai Adélia e a menina?

- Bem, na medida do possível, é claro. Adélia está muito triste. Todos nós estamos.

Adélia é uma mulher muito boa, pensou o Dr. E a menina Lúcia era linda. Ele mesmo quem fez o parto. Ele mesmo quem trouxe a menina ao mundo 8 meses atrás, ele quem diagnosticou o câncer de Lúcia à 5 meses. Ele era quem estava prestes a dar mais uma notícia terrível. 2 para 1, ele pensou. Estava em desvantagem para com essa família.

- Fernando, chegou o resultado do seu exame.

- Mas já?

- Já. O seu coração está trabalhando mais que o suficiente, Fernando. Insuficiência Cardíaca Aguda.

- Muito grave doutor?

- É grave sim, será necessário transplante. Mas poderemos fazer o mais rápido possível para você, eu já consegui o orgão compatível.

Fernando não respondeu de imediato. Sorria como quem via a saída para tudo, um sorriso suave. Depois de algum tempo de silêncio, ele resolveu.

- Marque para daqui 6 meses então Dr.

O Doutor Lucas não entendeu.

- 6 meses? Fernando, você não deve estar entendendo! Você precisa dessa cirurgia quanto antes. Você está correndo riscos! Não viverá com este coração por 6 meses. Ele falhará antes.

- Lucas, você é quem não entende. Eu não posso abandonar minha família agora. Eu não vou deixar fazer parte desse casamento, dessa vida, agora que minhas meninas precisam de mim. Eu me recuso a fazer isso agora.

- Fernando, sua filha precisará de um pai no futuro. Seus netos precisarão de avô. E quanto à esses casamentos? Você deixará de fazer parte dessas novas vidas. Não se recuse à vida deles também!

Fernando sorriu como se o doutor não soubesse nada da vida.

- Sabe Lucas, eu amo Adélia. Eu a amo tanto. E eu só tenho 6 meses para amá-la. Depois disso, acabou. Terei tanto tempo para pensar em mim. Ela precisa de mim mais do que eu preciso desse coração. Ela não vai conseguir se eu estiver ausente. Eu não vou conseguir. Pode não fazer sentido para você, mas faz é o que me faz viver.

- Mas Fernando...

- Por 6 meses, eu sou dela, Dr. Lucas. Depois disso, sou todo seu.

Fernando respirou calmamente e, com os olhos cheios de água, completou:

-E, com certeza, irei precisar de outro coração, porque este aqui estará despedaçado.

Lucas, se perdeu em pensamentos. Lembrou de Júlia. Do tempo que poderia ter passado com ela e não passou. Como poderia querer que alguém cometesse o mesmo erro que ele havia cometido?

- Em 6 meses, terei os melhores cirurgiões. Disse Lucas, apertando a mão de Fernando.

E este saiu do consultório sem dizer uma palavra. Havia falado o suficiente.

2 comentários:

João Paulo disse...

Poxa, que bonito, Aline...

pequena disse...

você escreve com tanta sensibiidade aline.cheguei a ouvir as vozes e imaginaro rosto dos seus personagens. =)

sabe,eu queo saber quem é você, essa tal de aline de quem meus amigos mais velhos falam ! hê.
=) =* o//