modo de preparo...

domingo, 9 de março de 2008

Céu

Estava irritado. Minha mãe disse que me buscaria as 5:30 e já eram 6:30. Na calçada, sentado sozinho, passei a observar. Vi uma senhora conversando com uma mulher, um papo silecioso e entrecortado por silêncios que eu mal posso imaginar do que se tratava. Vi um bicicleteiro que passou na rua, vindo de algum lugar e indo para outro. Um adulto-velho estava dentro de um carro vermelho-escuro lendo uma revista e ouvindo música. Um moço passou pedindo esmola e não recebeu (se ele tivesse me pedido, eu lhe daria os 5 reais do meu bolso que estavam ali para pagar uma apostila que não chegou). Um jovem adentrou o portão do seu prédio e sumiu nas paredes.
Imerso na vida, observei então o céu. Estava com várias tonalidades de azuis (o claro, normal do dia, e um mais escuro), e as nuvens imensas pareciam pintadas com um pincel grande e imprudente. Não eram aquelas nuvens algodão-sólido, que conseguimos criar imagens das mais variadas, mas sim nuvens suaves, finas, emendadas umas nas outras. O branco delas se misturava com o azul do céu como tinta mesmo. A luz do Sol ainda dava para ser vista, amarelada, vindo de algum ponto que eu não conseguia enxergar, e fazia o dourado se misturar com as cores em pontos inimagináveis.
O céu parecia maior do que realmente é. Pareciam haver vários "céus" ali, um em cima do outro (acho que foram as nuvens que deram este efeito), mas sei que na hora eu não conseguia deixar de olhar para cima. Em outro canto, algumas nuvens pingadas de azul-escuro-chuva também vinham, fracas e finas como as outras.
Só sei que me senti como um ser humano minúsculo, imerso no Universo, sabendo apenas que não sabia nada. Era como uma criança que não sabe ler, mas se admira quando pega um gibi cheio de figuras. O céu detém mistérios dos mais variados, isso eu tenho certeza. É imponência demais, beleza demais. É grandeza, é infinito... Ele esconde coisas tão bonitas e perigosas, coisas que meu coração é pequeno demais para sentir. Diante dele, sou apenas uma criança mesmo, me alegrando com as imagens, perguntando a mim mesmo o que será que está escrito dentro dos balõezinhos.

4 comentários:

pequena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
pequena disse...

acho um barato ( e um tanto perigoso) quando "caímos em nós" assim, reconhecendo nossa exiguidade no mundo.. =T mas ao mesmo tempo, nesses instantes somos como senhores com da história alí - podendo imaginar o que está escrito nos "balõezinhos",digo..
...ou seja,escrevendo. =) =**

Chrystian disse...

isso que é importante... parar para reparar nas coisas simples, o céu, o sol, as pessoas (as últimas nem tão simples assim)... Já que estava por lá mesmo, por que não parar de pensar no porquê de sua mãe estar demorando e querer estrangulá-la quando chegasse, pra poder pensar nessa beleza e imensidão toda?
Gostei.

Anônimo disse...

muito bom!