modo de preparo...

quinta-feira, 6 de março de 2008

movimento

eu estava na van, ouvindo minha musiquinha romântica e triste, quando eu vi. -meu deus, tem tanta coisa acontecendo e eu nem posso sentir! eles tem dito, todos eles, todos os professores: jornalista tem que estar atento - tem que ver - que em cada segundo tem milhões de coisas acontecendo, e que essas coisas são notícias.
se são notícias ou não, eu ainda não consigo destinguir. eu ainda não passei pela censura de uma reunião de pauta. mas pra mim, tudo ainda pode ser notícia. notícias populares, no sentido de que a vida está sempre acontecendo, constantemente, com o tempo se movendo e levando a gente com ele.
eu vi, porque eu estava parada dentro de uma van de transporte escolar, indo para a minha faculdade particular, respirando a música que tocava no meu ipod, com meu novo cabelo liso, e tinha um carro meio velho e muito usado ao lado. dentro dele não tinha ninguém igual a mim, mas um casal com caras muito mal humoradas que com certeza não vinham da preguiça por acordar tão cedo assim. eles discutiam. discutiam sério, feio, e a moça fazia uma cara triste enquanto ele lhe apontava o dedo. todos da van olharam a cena, não foi só eu, não foi só a minha curiosidade não. eles quase gritavam.
eu não tive dó, nem compaixão, nem nada que me doesse. afinal, todo mundo briga não é? e eu estava ali do lado, do lado de fora, não havia nada a fazer a não ser em relação a mim mesma e a minha própria vida. o mundo flutuava la fora. o mundo se perdia entre meus dedos porque girava numa velocidade que eu não pude acompanhar. mas de fato, eu vi.
vi que a vida não pára, por mais que eu pare, por mais que eu me esforce, por mais que eu corra só pra ter o gosto de descansar depois. a vida não descansa. eu posso estar parada no meu sofá, com um laptop no colo, movendo apenas cinco dedos para escrever, mas o mundo está em movimento. enquanto eu fico aqui parada, tem gente correndo nessa chuva que não pára e me dói o peito, tem gente morrendo gente matando gente nascendo gente amando gente sofrendo, tem gente em todos os gerúndios que se possa imaginar. eu só quero ter o privilégio de observar, de sentir, de imaginar todas as guerras armadas e desarmadas (aquelas interiores, de dentro da cabeça) que podem estar acontecendo nesse exato momento da minha estática.
e fechar os olhos no final. pra sentir o mundo rodar na minha fome. sentir que nem tudo é notícia, mas tudo é fato. tudo é ato, tudo é suor. e não importa quantas dúvidas eu tenha, ou quantas angústias me esmaguem o peito como se faz com uma bola de papel antes de jogá-la ao lixo. porque a muitos e muitos anos atrás, Deus deu um impulso tão forte na Terra, que ela nunca mais conseguiu parar de rodar.


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o blog agora quase já é oficialmente só da paula e do joão paulo (deve ser coisa do nome). desculpem o desleixo, a ausência e tudo o mais. mas, "o bom filho a casa torna". e eu apareço assim, sempre que puder. ;)

3 comentários:

João Paulo disse...

hehehe.

"Deus deu um impulso tão forte na Terra, que ela nunca mais conseguiu parar de rodar.", gostei dessa parte. :)

Eu tô voltando da universidade de ônibus. É uma expericência maravilhosa (sem ironia, sério), e ali dá pra perceber também um monte de fatos da vida, que não dariam para ser notícias mas tem grandes significações.

Ou não... :)

Ó, ainda aguardo pacientemente o seu jornal desbancar o Popular,viu?

Chrystian disse...

é. Ando de ônibus desde a 5ª série. Às vezes paro pra reparar nas pessoas e começo a rir sozinho. Vejo todas aquelas pessoas sérias, de cara fechada e fico pensando o que se passa na vida delas. E fico pensando o que elas fazem, por que estão ali, qual o motivo do mau humor (isso eu aprendi com a Paula). Daí eu rio de mim mesmo por estar pensando isso e por também me pegar de cara fechada e expressão séria de vez em quando.
Adorei o texto da Déborah. Gosto do jeito de escrever dela.
Lendo o começo do texto lembrei do começo do filme "O fabuloso destino de Amelie Poulain", em que ela (Amelie) fica pensando essas coisas e aí pensa em quantas pessoas estão tendo um orgasmo naquele exato momento.
E isso comprova a idéia da Paula e do Godoy de que não existe só um mundo... existem bilhões, cada um do seu modo, do seu jeito bem peculiar.
=]

pequena disse...

wow d�borah!
" sentir o mundo rodar na minha fome" e " quantas ang�stias me esmaguem o peito com se faz com uma bola de papel antas de jog�-la ao lixo" est�o desde j� no meu caderno/di�rio bagun�ado e rabiscado de capa dura.

sabe,vou ficar tor�endo para vc escrever mais aqui - tenho uma identifica�o muito forte com o que voc� escreve.

n�o sei se lhe disseram - e eu esqueci de dizer ontem, mas no aul�o inaugural de teatro esse ano,eu li um texto seu,quero dizer, do pl�nio marcos, mas que chegou at� minhas m�os por voc� e o qual me marcou muito...ent�o eu respiei fundo n palco 360 graus onde a m�nica nos disp�e e disse: " bom,n�o preparei nada, mas trouxe um texto que conheci por uma aluna daqui do teatro, mas que n�o est� presente, e vou l�-lo para voc�s..."

o texto � " o Ator".

=* o/