modo de preparo...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Abraço em grupo 2!

Esse abraço é especial, só para leitores. :)
Daí é só responder num comentário, que a gente bota ele aqui no texto depois.

Abraço em grupo 2

Godoy:
Quando uma coisa deixa de ser normal e passa a ser estranha?
Gabriel: O conceito de normal ou estranho é influenciado pela sociedade. Qualquer coisa passa a ser conciderada estranha quando foge do conceito sociocultural, ou seja, tudu aquilo que apresenta um nova ideia ou foge do comum, que o difere da grande maioria de seu meio, passa a ser conciderado estranho. Um exemplo bem notavel são os camicases, na cultura deles, aqueles jovens que morrerem pelo o pais( ou algo assim) terá 70 e tantas virgens no paraiso. Isso é estranho para mim, mas para eles é um privilégio. É, algo passa a ser conciderado estranho quando é diferente, mesmo que seja o correto. Quando Galileu falou que a terra girava em torno do sol foi conciderado estranho. Mas há tambem um outro ponto de vista: em uma sociedade em que todos sao normais, privilegiados sao os estranhos.E falando de um conceito mundial, eu não gostaria de ser normal, Jesus nao era normal, nem todas as outras pessoas que mexeram com o mundo.

João:
Existem "graus" de amor ou quando amamos as pessoas amamos todas na mesma intensidade?
Renatinha: Existem sim graus de amor. Acredito q um dia talvez nós sejamos capazes de amar a todos da mesma forma. Mas isso tem a ver com uma crença mais espiritual, de pessoas evoluídas e mundo perfeito.
Mas por enquanto nós amamos sim em graus. Amamos muito, pouco, somos indiferentes, odiamos. Nós sentimos. E sentimos muito. e sentir eh uma forma de amar a vida.
Andei pesquisando, pra constatar o q jah sabia.
"A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc."
Não soh existem graus de amor, como existem formas de amor.
E amando muito, ou amando pouco, o q realmente importa eh q possamos amar, o quanto for possível, a quem for possível.


Godoy
: Qual é a coisa mais bonita do mundo?
Lucas Garcia: O conceito de beleza é bastante individual, mesmo assim sendo, para mim não existe uma coisa mais bonita do mundo. Do mundo é grande, da sala existe, da minha casa pode existir, da cidade existe. Mas do mundo é difícil existir porque estão as coisas mais bonitas da sala, da casa e das cidades juntas, e fica complicado escolher uma só. Mas a lua é uma boa indicação de uma dessas coisas mais bonitas do mundo. Não se arrependeriam de olhar para ela, principalmente se ela estiver cheia

João:
A verdade é individual ou universal?
Bruno Cunha: 'A' verdade é universal. E seria um disparate duvidar que esta afirmação seja irrefutável. Existem instâncias do pensamento humano que são indviduais, conceitos, opiniões e verdades que tomamos para nossa vida, cuja existência e intensidade dependem e concernem apenas a nós mesmos. Mas desacreditar de verdades universais é pecar contra a realidade e contra o bom senso.
Te dou um exemplo?
Deixar de acreditar em Newton não vai me imunizar contra os efeitos da gravidade.
Ninguém nunca terá coragem de reproduzir a experiência do transmissor/gerador de Tesla, mas todos têm plena convicção dos efeitos que ela causaria.
Ser ateu não fará Deus deixar de existir.
Nesse instante, eu tenho plena certeza de que minha fé é conseqüência e não causa. Se algum dia, por qualquer fortuito acontecimento, eu deixar de acreditar, jamais vou ter argumentos pra refutar quem acredita.
Quanto ao meu conceito de 'A' verdade - a razão da criação, motivo da existência, a justificação de todos os acontecimentos -, embora eu esteja a anos-luz de vislumbrar ter uma leve noção do que isso seja, sim, eu acredito em tal. E não me desanima nem me preocupa saber que posso deixar esta vida sem saber o que isso significa.


João Paulo: Você acredita em destino?
Roberta: Posso estar enganada,mas pra mim o destino está inteiramente ligado à uma crença religiosa talvez,ao lado espiritual de cada pessoa. Há quem acredite e quem não acredite.Nunca fui muito adepta a religião,no entanto sempre procurei aceitar e observar a coerencia de cada uma...o espiritismo por exemplo que nos faz refletir sobre existir ou não vidas passadas eu acredito (posso estar fazendo confusão)ser uma manisfestação do destino.Segundo o dicionário,'destino diz respeito a ordem natural estabelecida do universo',o que acontece na verdade é que muito fazemos confusão entre destino e coincidencia,e o meu lado espiritual acredita de verdade que quando uma coisa persiste em acontecer,mesmo tendo partido de um indutor,o tal destino tem uma pontinha de culpa nisso,ou talvez não,talvez seja Deus colocando sob nosso controle o nosso destino,um plano cabível a nós....unf...eu tentei não levar pro lado espiritual e sim racional JP,mas pelo jeito não consegui me expressar de forma clara e concreta.Mas a verdade é que eu acredito sim em destino e que o acaso não existe, apesar de sermos nós o "indutor" de nossas ações, e das reações alheias.

João Paulo: Você acredita em sorte e azar?
Amanda: Sorte e Azar? É claro que eu acredito em sorte e azar! Mas isso (e algumas outras pessoas devem concordar comigo nesse ponto), é MUITO diferente de considerar que haja dois grupos de indivíduos no mundo: Os ‘sortudos’ e os ‘azarados’. Não dá para categorizar alguém por esses princípios. Paradigmas são completamente dispensáveis nessa ocasião. Pensando de uma forma mais simples: acho que tudo na nossa vida “pode ser sorte, ou pode ser azar”.
Um exemplo, casual e batido, é o do homem que perdeu o vôo da GOL. Na hora ele pode até ter pensado: “Ok, eu tenho é muito azar!”, mas então o avião cai, sem sobreviventes, e umas horas depois ele percebe o quanto teve sorte. Ou a mulher que se atrasou para o trabalho, por que era o seu dia de levar café para os outros do departamento, e não morreu no World Trade Center. Nem tudo o que parece azar, é realmente azar. Nem tudo o que parece sorte, é realmente sorte.
Acho que a vida se encarrega de nos demonstrar que cada dia é um novo dia, e cada situação é uma nova situação.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Grandes Expectativas

Não, não se trata de uma tradução, resenha ou reflexão do romance homônimo de Charles Dickens. Talvez haja alguma ligação remota

Há poucas horas atrás,na companhia de minha mãe e irmã encontrei por coincidência duas grandes amigas minhas e mais alguns conhecidos,uma com ares um tanto distantes e outra agora mais próxima e querida e me ocorreu o que eu parecia,repito: “parecia”, já saber: que não devemos criar grandes expectativas,tanto tratando-se de pessoas , como de acontecimentos. Caso contrário,dói demais.

Para alguns (e neste momento levanto meu braço), é um ato inevitável, criar grandes expectativas,digo. Somos o que se pode chamar de sonhadores diurnos, visualizamos o futuro com personagens,cenários e enredos, como num "filme de nossas vidas" (quanta bobagam!). Particularmente não saberia responder quais são minhas expectativas, mas sei: são grandes.

Estaremos casados, solteiros,morando junto,separados?Bem sucedidos ou ainda suando para tal?Teremos filhos?E se tivermos,será que corresponderão às nossas expectativas (isso é , se fizermos a besteira de esperar algo mais do que felicidade deles)?Onde estaremos morando?Estaremos mais magros,mais gordos?Estaremos realizados, ou cheios de lamentações?Nossos amigos , serão os mesmos? – Ah, sim!Cheguei onde gostaria: os amigos. – Eu responderia essa pergunta dizendo que provavelmente e,infelizmente, muitos deles vão desbotando como as cores daquela nossa camiseta favorita que ainda insistimos em guardar no armário por gostarmos imensamente dela. A questão é que, vamos vendo-os cada vez com menos freqüência , participamos menos de suas vidas e vice-versa, deixamos de saber que músicas andam ouvindo o que andam fazendo ,adivinhar o que andam passando. “Ta”aí!Será que hoje, agora nesses “anos dourados” de colegial a faculdade, nós sabemos? Digo,sabemos pelo o quê estão passando?Quantas vezes já me chateei (secretamente) com algum amigo porque ele ou ela não ligou ou esqueceu uma data importante!?Ou porque tentaram controlar minhas vontades?!Ou porque não concordava exatamente com algum conselho dado?! Nossos amigos,assim como nós, também pegam “blues”vez ou outra, também desanimam,também têm problemas de comunicação, também somem do mapa para refletir sobre a vida, também desejam,também correm atrás para a realização desses desejos, também brigam com a mãe, também têm vontade de chorar sem motivo,também têm compromissos,também tem dificuldades,defeitos, etc,etc etc e emfim...Não sei ao certo se são 7.2 bilhões de pessoas no mundo, mas estou cada vez mais convicta de que existem cerca de 7.2 bilhões de mundos (é certo que alguns são meio quadrados, mas ainda contam). E muitas vezes me restrinjo a somente um. Que chato, não?


Quem sabe o grande barato não está na capacidade que um tem de reinventar-se e não na espera de algo que provavelmente não ocorrerá como...como.. o esperado ?!Para quê aprisionar-se no tempo?Sabemos,e elas próprias sabem também,algumas figuras permanecerão eternas, nem que seja em memória ou num “coração de armário”; e novas pessoas vão entrar e sair,com pressa,derrubando tudo ou com vagareza e gestos feito os de um gatinho recém-nascido.Todo mundo tem: os amigos da faculdade, os do trabalho e aqueles velhos amigos dos tempos de colégio(continuo acreditando que esses são os mais fortes- afinal,quanto mais jovens , mais flexíveis somos e maior facilidade temos em fazer amizades..não que isso seja uma regra!). E é assim, não é mesmo?! O melhor seria, e espero eu, oops, espero não, desejo, que todos possam permanecer conosco. E que possamos compartilhar mais de seus futuros em seus mundos,fundidos um pouquinho com o nosso!

Deus existe? (2)

Será que Deus existe? Eu acho que sim. São tantas coicidências que acontecem na vida, tantos encontros e oportunidades que parecem aparecer em boa hora, tantas provações dadas na medida certa, tantas tarefas cabíveis, tanto equilíbrio, que eu acredito que deve haver alguém por traz de tudo isso, arquitetando todos esses fatos sublimemente.

Não consigo pensar que nem o Tchuca, que diz acreditar em coicidências, diz acreditar que quando coisas teoricamente impossíveis de serem realizadas acontecem (como o garoto vestido de homem-aranha ter salvado um bebê em chamas na maior naturalidade), não existem motivos especiais por detrás dos fatos. Coisas como essas aconteceriam simplesmente em função de uma série de pequenos fatos ocorridos numa determinada ordem, e pronto. Não necessariamente teriam de de ocorrer desta forma, mas eventualmente ocorreram. É como jogar um dado. Pode dar 6, mas pode dar 1. O menino salvou, mas poderia ter morrido junto com o bebê.

Mas eu discordo, Tchuca, acho que existe um motivo maior e desconhecido por trás de cada coicidência da vida, e talvez seja um pensamento bobo, algo que criamos só para satisfazer algumas de nossas fraquezas e necessidades, mas veja bem: até mesmo o Einsten acreditava em Deus! Para ele, era um ser cósmico que pode ser representado pela natureza. Disse que era como o Deus de Spinoza, um Deus que não atenderia aos desejos pessoais do ser humano. Foi ele quem disse que "Deus não joga dados com o mundo."

Claro que era só o pensamento dele. O de Descartes era outro. O de Rubem Alves, outro. Na verdade, Deus é o que cada um, individualmente, pensa dele. Para mim, Deus é professor. E nós, somos alunos. Como todo o bom professor, ele não resolve nenhuma lista de exercícios para nós, ele nos dá essa lista para resolvermos. Daí vem o livre-arbítrio. Somos livres para fazer o dever, errar, e quem sabe até abandonar a lista, se quisermos. Porém, não devemos temê-los: Deus nunca daria a nós um exercício impossível de ser resolvido.

Mas pode ficar tranquilo, Tchuca, que eu não deixo de ser seu amigo por você não crer em Deus (:)). Os religiosos que se contrariam quando alguém discorda deles dá o primeiro passo para uma imensa guerra irracional. E o Deus que eu acredito é o Deus do amor. "Amai-vos uns aos outros", resumiu Jesus. A beleza de Deus está nessas coisas simples da vida, um sorriso, um abraço, uma renúncia em nome do outro que amamos, enfim, essas coisas englobadas no amor mesmo. A nossa religião interior não pode ser complicada, entruncada, se não nos tornamos seres irracionais, e regredimos ao invés de progredir. Não podemos nos alienar à religião, ela deve ser sempre combatida com a razão, para não ser cega.

Acho que por isso gosto tanto do Espiritismo. Lá, na primeira página do Evangelho Segundo Espiritismo, está escrito "A fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade". O Espiritismo estuda os fenômenos do mundo invisível e os contatos entre o invisível e o visível (que é a Terra), e de acordo com a crença é um fenômeno tão natural quanto o cair de uma chuva, o brotar de uma flor - mas daí são coisas estudadas por outras ciências, como biologia, física...

Mas acreditar ou não acreditar em Deus é irrelevante, para quem pratica o bem, para quem é caridoso, para quem sabe aceitar os problemas e ser feliz. Eu achei engraçado quando meu vô disse que tinha um amigo ateu mais espírita do que muito espírita! Quer dizer: praticando o amor para com os outros, o amor "que não é necessarimante de menino pra menina mas de gente para gente", como poetizou a Déborah num texto aí em baixo, nada mais precisa ser feito. Nem é preciso acreditar em Deus, e nem ter essa ou aquela religião.

Fazendo isso, lutando sempre pelo bem, sempre pela compreensão e empatia com o próximo, a questão título deste texto é insignificante. Sorrindo interiormente, conscientes de acreditar nesta beleza que é o amor, podemos responder um "Talvez" e continuar a caminhar, tranqüilos, com a certeza de estar fazendo a coisa certa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Deus existe?

Hoje vou postar um texto do Rubem Alves! Para dar continuidade ao post e comentários do texto da Paula. O site oficial dele é www.rubemalves.com.br, lá tem um monte de textos que ele já publicou em algum lugar. Eu, particularmente, gosto muito de seus textos e de suas idéias, e ainda mais do modo simples como ele escreve.

Deus existe?

De vez em quando alguém me pergunta se eu acredito em Deus. E eu fico mudo, sem dar resposta, porque qualquer resposta que desse seria mal entendida. O problema está nesse verbo simples, cujo sentido todo mundo pensa entender: acreditar. Mesmo sem estar vendo, eu acredito que existe uma montanha chamada Himalaia, e acredito na estrela Alfa Centauro, e acredito que dentro do armário há uma réstia de cebolas... Se eu respondesse à pergunta dizendo que acredito em Deus, eu o estaria colocando no mesmo rol em que estão a montanha, a estrela, a cebola, uma coisa entre outras, não importando que seja a maior de todas.
Era assim que Casemiro de Abreu acreditava em Deus, e todo mundo decorou e recitou o seu poema teológico: “Eu me lembro... Era pequeno... O mar bramia, e erguendo o dorso altivo sacudia a branca espuma para o céu sereno. E eu disse à minha mãe naquele instante: ‘Que dura orquestra/ Que furor insano/ Que pode haver maior que o oceano ou mais forte que o vento?‘ Minha mãe a sorrir olhou para os céus e respondeu: ‘Um Ser que nós não vemos/ É maior que o mar que nós tememos, é mais forte que o tufão, meu filho: é Deus.‘“
Ritmos e rimas são perigosos porque, com freqüência, nos levam a misturar razões ruins com música ruim. Deixados de lado o ritmo e as rimas, o argumento do poeta se reduz a isso: Deus é uma “coisona“ que sopra qual ventania enorme, e um marzão que dá muito mais medo que esse mar que está aí. Ora, admito até que coisona tal possa existir. Mas não há argumento que me faça amá-la. Pelo contrário, o que realmente desejo é vê-la bem longe de mim. Quem é que gostaria de viver no meio da ventania navegando num mar terrível? Eu não...
É preciso, de uma vez por todas, compreender que acreditar em Deus não vale um tostão furado. Não, não fiquem bravos comigo. Fiquem bravos com o apóstolo Tiago, que deixou escrito em sua epístola sagrada: “Tu acreditas que há um Deus. Fazes muito bem. Os demônios também acreditam. E estremecem ao ouvir o Seu nome...“ (Tiago 2,19). Em resumo, o apóstolo está dizendo que os demônios estão melhor do que nós porque, além de acreditar, estremecem... Você estremece ao ouvir o nome de Deus? Duvido. Se estremecesse, não o repetiria tanto, por medo de contrair malária...
Enquanto escrevo, estou ouvindo a sonata Appassionata, de Beethoven, a mesma que Lenin poderia ouvir o dia inteiro, sem se cansar, e o seu efeito era tal que ele tinha medo de ser magicamente transformado em alegria e amor, sentimentos incompatíveis com as necessidades revolucionárias (o que explica as razões por que ativistas políticos geralmente não se dão bem com música clássica). Se eu pudesse conversar com o meu cachorro e lhe perguntasse: Você acredita na Appassionata? - ele me responderia: Pois é claro. Acha que eu sou surdo? Estou ouvindo. E, por sinal, esse barulho está perturbando o meu sono.
Mas eu, ao contrário do meu cachorro, tive vontade de chorar por causa da beleza. A beleza tomou conta do meu corpo, que ficou arrepiado: a beleza se fez carne.
Mas eu sei que a sonata tem uma existência efêmera. Dentro de poucos minutos só haverá o silêncio. Ela viverá em mim como memória. Assim é a forma de existência dos objetos de amor: não como a montanha, a estrela, a cebola, mas como saudade. E eu, então, pensarei que é preciso tomar providências para que a sonata ressuscite de sua morte...
Leio e releio os poemas de Cecília Meireles. Por que releio, se já os li? Por que releio, se sei, de cor, as palavras que vou ler? Porque a alma não se cansa da beleza. Beleza é aquilo que faz o corpo tremer. Há cenas que ela descreve que, eu sei, existirão eternamente. Ou, inversamente, porque existiam eternamente, ela as escreveu. “O crepúsculo é este sossego do céu/ com suas nuvens paralelas/ e uma última cor penetrando nas árvores/ até os pássaros./ E esta curva de pombos, rente aos telhados,/ e este cantar de galos e rolas, muito longe;/ e, mais longe, o abrolhar de estrelas brancas,/ ainda sem luz.“
Que existência frágil tem um poema, mais frágil que a montanha, a estrela, a cebola. Poemas são meras palavras, que dependem de que alguém as escreva, leia, recite. No entanto, as palavras fazem com o meu corpo aquilo que universo inteiro não pode fazer.
Fui jantar com um rico empresário, que acredita em Deus, mas me disse não compreender as razões por que puseram o retrato da Cecília Meireles, uma mulher velha e feia, numa cédula do nosso dinheiro. Melhor teria sido retrato da Xuxa. Do ponto de vista da existência ele estava certo. A Xuxa tem mais realidade que a Cecília. Ela tem uma densidade imagética e monetária que a Cecília não tem e nunca quis ter. A Cecília é um ser etéreo, semelhante às nuvens do crepúsculo, à espuma do mar, ao vôo dos pássaros. E, no entanto, eu sei que os seus poemas viverão eternamente. Porque são belos.
A Beleza é entidade volátil - toca a pele e rápido se vai.
Pois isso a que nos referimos pelo nome de Deus é assim mesmo: um grande, enorme Vazio, que contém toda a Beleza do universo. Se o vaso não fosse vazio, nele não se plantariam as flores. Se o copo não fosse vazio, com ele não se beberia água. Se a boca não fosse vazia, com ela não se comeria o fruto. Se o útero não fosse vazio, nele não cresceria a vida. Se o céu não fosse vazio, nele não voariam os pássaros, nem as nuvens, nem as pipas...
E assim, me atrevendo a usar a ontologia de Riobaldo, eu posso dizer que Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade.
Posso então responder à pergunta que me fizeram. É claro que acredito em Deus, do jeito como acredito nas cores do crepúsculo, do jeito como acredito no perfume da murta, do jeito como acredito na beleza da sonata, do jeito como acredito na alegria da criança que brinca, do jeito como acredito na beleza do olhar que me contempla em silêncio. Tudo tão frágil, tão inexistente, mas me faz chorar. E se me faz chorar, é sagrado. É um pedaço de Deus... Dizia o poeta Valéry: Que seria de nós sem o socorro daquilo que não existe?

Rubem Alves

(Correio Popular, 13/04/1997)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Nada

O José Saramago certa vez disse, não sei quando nem onde, que todos somos escritores,só que alguns escrevem, outros não.

Bom, hoje eu acordei pensando nisso, já que não sinto mais tão escritora assim e tenho a tal proposição pregada em um mural , que em teoria deveria me inspirar, sobre meu leito; e já que há tempos não escrevo nada, nem nada é escrito aqui.(Notem que o último post é do ano passado!

Então,sem maiores criatividades, resolvi escrever sobre o nada- e nas férias é exatamente que um faz. Tomado que “o nada”é muito freqüente , e portanto, importante aqui,em mim e nos outros também (espero eu). Para exemplificar tal importância e freqüência vejam que agora pouco, ali no parágrafo de cima, fiz uso do nada para me referir aos textos e colóquios, frutos de férteis imaginações,indignações e indagações que não foram, mas poderiam ter sido escritos neste blog. E assim acontece todos os dias: dentro dos lares, dos escritórios, na rua , nos supermercados, nos ônibus e parquinhos , na boca de senhores , senhoras, adultos, crianças,sinceros,mentirosos,reservados…emfim..o nada é uma imensidão de coisas e ocorrências.

“Mãe, ta doendo!”, “Quieto, meu filho, não foi NADA”; “O que foi com você?”, “NADA,me deixe em paz”; “O que é isso aí?”, “ NADA, não estás vendo?!”; “Você é NADA para mim!!” ;”Alô?Vem aqui pra casa, ta todo mundo aqui..”, “Ah, vou sim ..quê que vocês estão fazendo?”, “Ah, você sabe,NADA” e por aí vai.

Todavia, o que o nada reflete ?O século XXI?Impaciência?Individualismo?Muito o que dizer, mas pouco caminho?Omissão por opção? Preguiça ? Podem apostar que sim!E,como não fujo à regra e ainda não estou culpada o suficiente para mudar minha atitude, sim, pois o pensamento já mudei, nem tenho mais nada a dizer ( pois o que diria ainda não está por completo organizado),vou já me despedindo desta curta e preguiçosa divagação. Até mais!E que 2008 seja nada, ou tudo,se o nada resolver se referir à ele!